quarta-feira, 10 de agosto de 2011

um filme sobre o belo!



Li essa novela de Thomas Mann há uns 10 anos. Como amo tudo - pelo menos os livros que eu li - deste grande escritor alemão, adorei! É uma obra densa. Recentemente, cansada das programações Déjà vu daqui de Recife, sugeri a meu marido (que topou prontamente!) irmos a uma sessão do cineclube Cinema & Psicanálise, sábado à tarde no auditório da Academia Pernambucana de Medicina. Seria exibido o filme Morte em Veneza, nunca visto antes por esta que vos escreve, seguido de um debate com ninguém menos que Alexandre Figueirôa.

Figura super cult desde os meus tempos de Católica, Figueirôa é crítico de cinema, jornalista (atualmente coordena o curso de jornalismo da Unicap) e recentemente - li numa revista - adotou uma invejável eco e bacana way of life em Vila Velha. Não disse no começo deste parágrafo que Figueirôa era cool?

Voltando à sessão do Cine & Psiquê, foi uma das tardes de sábados das mais agradáveis. Ao contrário do que acontece normalmente, o filme não é menor do que o livro. Após a exibição, assistimos a uma ótima discussão sobre Morte em Veneza, do italiano Luchino Visconti. Os comentários a seguir são frutos do que vi e ouvi nessa sessão especial.

O compositor Gustave, personagem principal, viaja para Veneza em busca de paz diante de uma crise existencial. Ao chegar à cidade, adoece. Ao colapsar também com seu processo de criação, ele passa a refletir sobre a finitude da vida. A cena da ampulheta sugere uma parábola sobre a existência humana. Parênteses: Na narrativa de Mann, o personagem central é um escritor, mas Visconti o transforma em músico.  

O filme não sugere apenas uma reflexão sobre a nossa transitoriedade, mas nos leva a pensar também sobre a dissolução da capacidade criativa do sujeito. Gustave é o arquétipo de um ideal de cultura europeia, do final do século XIX, que se dilui. São os indícios dessa tal modernidade. E, como diz o badalado sociólogo Zygmunt Bauman: “A modernidade é líquida”!

Ao som de violinos e pianos, ele tem seu primeiro contato no salão do hotel com Tadzio, ou melhor, com a beleza em sua forma idealizada. Mas, afinal, o que é a beleza? Um sentido do homem ou uma dimensão espiritual? O contato com Tadzio atiça em Gustave diversas reflexões sobre o belo, a arte e o papel do artista. São metáforas que não podem ser ignoradas e ajudam na apreensão do filme.

O fascínio de Gustave pelo jovem só cresce no decorrer de Morte e Veneza, assim como a sua angústia. A sensação de  prazer se mistura a de desespero. Como o compositor é um moralista nato, típico de seu tempo, nada pode modificar a sua compreensão acerca do belo, que é intocável. Mas, quando filtrado pelos nossos sentidos, o belo é maculado!

A busca pelo sublime se contrasta a uma praga que ataca Veneza, trazendo à tona a decadência e a miséria. É difícil imaginar uma Veneza feia, hein! Mas Visconti consegue mostrar exatamente o contrário dos nossos ideais estéticos da beleza.

Ao perceber a eminência da morte, Gustave se dissolve assim como a cidade tomada pela peste. A cena final na praia deserta nos transporta à última etapa do amor platônico de Gustave por Tadzio, representado ali por um Deus grego da mitologia. A ambivalência se faz presente no filme: a morte que o aprisiona é, ao mesmo tempo, a que vai libertá-lo!

Belo filme!


2 comentários:

  1. Ju, e aquela câmera fotográfica sobre o tripé, aparecendo tão centralmente em diversas cenas?

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  2. ...e intencionalmente, integrando o cenário. Belo, belo, belo!

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