domingo, 29 de abril de 2012

Jazz is Paris, bien sûr!


Fazia um tempão que eu não escutava uma das músicas mais cool de todos os tempos. Estou falando de Jazz is Paris, do lendário Malcolm McLaren, o criador de Sex Pistols e responsável pelo impulso do movimento punk no mundo. Ele foi casado com ninguém menos do que a icônica Vivienne Westwood e um dos percussores do voguing – estilo de dança surgido entre os negros e gays dos guetos norte-americanos, e propagado por Madonna. 

Voltando ao assunto. Jazz is Paris é densa, sofisticada, sedutora. Que reflete o sentimento noir de Paris. É isto tudo e muito mais. Adoro essa fase pop afrancesada de Malcolm McLaren. 

Um saxofone solitário numa ruela do Marais, um copo de vinho tinto no Le Cafe Victor Hugo, na Place de Vosges ao final de um longo dia passeando pelo charmoso bairro dos judeus. Elegância a transbordar em cada esquina, assim como Jazz is Paris, Paris is Jazz!


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Coisas de mulher




Que Clarice Lispector é uma das escritoras mais cultuadas dos últimos tempos, isso ninguém duvida. Basta dar uma rápida olhada nas citações da linha do tempo do Facebook para comprovar. Um culto bem exagerado, diga-se de passagem. Aqui não estou entrando no mérito dela. Apenas me fatigo com tudo que é demasiado e unânime. Uma chatice igual ao frisson causado pelos shows de Chico Buarque e Paul Mc Cartney na terrinha!

Poucos conhecem a Clarice do Correio Feminino. Aquela que dá dicas, aconselha, recomenda. Que transita entre o trivial e transcendental com uma desenvoltura desconcertante. O Correio de Clarice de que vos falo é uma seleção de textos da escritora publicados em colunas e suplementos femininos da imprensa brasileira nas décadas de 50 e 60. A atualidade dos assuntos abordados é de impressionar!

Em tom de uma conversa entre amigas, Clarice Lispector fala sobre comportamento (em especial, os dilemas morais), os afazeres domésticos, as inquietações e dificuldades da mulher emancipada para conciliar a dupla jornada de trabalho, os cuidados com a beleza e os segredos da elegância.

Ao transitar por temas tão diversos, que vai do remédio contra ratos a como escolher o perfume ideal, Clarice delineou um contorno da mulher e da sociedade nos anos dourados. Adentrar pelas páginas deste Correio Feminino foi uma experiência que me encantou como tudo que já li de Clarice Lispector!

domingo, 15 de abril de 2012

Indignai-vos. Nota 10 para o #ocupeestelita!



Não estava prevendo escrever nada hoje, mas diante do que tenho escutado e lido a respeito do movimento do grupo Direitos Urbanos, que hoje ocupou o Cais José Estelita, resolvi me manifestar.

Na verdade, é uma indicação de um pequeno manifesto num momento bastante oportuno. Uma sugestão, sobretudo, para os que são contra e que zombam da grande mobilização de hoje (15) no Cais José Estelita.

Leiam urgentemente INDIGNAI-VOS, de Stéphane Hessel. Com mais de 90 anos, este filósofo belga e ativista faz um apelo ao envolvimento social e político em nome da emoção suscitada pelas injustiças. Comprar este pequeno livro, por si só, já é um ato militante, um gesto de comunhão, de participar de uma emoção coletiva.  

E por falar em emoção coletiva, a mobilização #ocupeestelita de hoje foi uma mostra de uma sociedade que se ressente do vazio ideológico, da ditadura do mercado financeiro, das injustiças sociais, da concentração de renda, dos desmandos do poder. Uma sociedade que se ressente porque sabe que tudo isso ameaça fortemente a paz e a democracia.

No texto, Hessel diz: “As razões para se indignar podem parecer atualmente menos claras, ou o mundo demasiado complexo. Quem manda, quem decide? Nem sempre é fácil distinguir as correntes que nos governam. Deixamos de ter contato com uma pequena elite cujas atitudes compreendíamos claramente. É um vasto mundo, que sabemos bem ser interdependente. Por isso, a indignação é a chave do compromisso”

Tenho pra mim que o grupo Direitos Urbanos está na direção certa e eu quero caminhar na mesma direção desses ventos que surgem no Cais José Estelita!

Parabéns #ocupeestelita! 

sexta-feira, 13 de abril de 2012

London is calling me!


Já faz algum tempo que ando escutando sem parar o maior dos ingleses. Sim, o camaleão David Bowie. A cada música dele eu me transporto para um canto de uma das cidades mais cool que conheço. Para ser mais precisa, quando escuto Heroes ou Sound and Vision sou imediatamente transportada para Camden Town. Sim, a mesma Camden da fantástica Amy Winehouse, a Camden dos punks remanescentes de 70, a Camden dos The Clash, a Camden do fabuloso Jazz Café, a Camden dos mercados livres e dos bistrôs charmosos. Londres está sempre à frente do seu tempo. É vanguarda na essência. Que o diga a icônica Vivienne Westwood, só para ficar num exemplo de moda!  

Oxford Street no Natal
Sim, estou saudosa dos anos em que morei nessa cidade tão estilosa e cheia de charme. Para aumentar ainda mais a saudade, essa semana eu encontrei com a minha querida amiga Dina Duarte com quem vivi ótimos momentos londrinos. Imagina você se formar na mesma turma de jornalismo, passar anos sem vê-la e vai encontrar ocasionalmente logo em Oxford Street, coração de Londres? Pois foi assim meu reencontro com Dina. Um reencontro desse só poderia resultar em muitas histórias, entre baladas, confidências e passeios! Sempre quando a gente se encontra lembra de algum episódio desvairado na nossa London Calling. E cai na gargalhada! Você é uma fofa, Dina!

Londres é trendsetter em tudo. É a Meca mundial da street wear. O paraíso das fast fashion. É o tipo de lugar onde ninguém tem medo de ousar, de ser diferente. E por falar em fast fashion, logo vem à cabeça as famosas H&M e Top Shop. São ótimas, diga-se de passagem. Mas, pra mim o conceito de fast fashion é a Primark. De longe, a mais barata. Agora é preciso ficar atenta ao acabamento que, de fato, às vezes deixa a desejar. Ainda assim, vale demais a pena. Amooooo! Deixe o preconceito fora da loja e se jogue. A gente encontra blusas lindas por 5 libras ou casacos super fofos por 10 libras. Para vocês terem uma ideia, há 10 anos comprei uma saia preta toda bordada que, quando coloco aqui no Recife, faz o maior sucesso. Foi de lá, da Primark. Se não me engano paguei a bagatela de 7 libras e ela ainda está inteira.

Que saudade desses brechós !


Quem me conhece sabe que amo um estilo retrô e um brechó. Pois bem, Londres é o paraíso dos brechós e feirinhas vintage! Ah, os mercados públicos são imperdíveis. As quadras entre Commercial Road, Brick Lane e Spitafields Market, no East London, são repletas de brechós e lojinhas vintage cheias de estilo. Aliás, as lojas de second hand (roupas usadas) em Londres são super cool. Nada a ver com roupa velha e mal cuidada.

O mercado em Portobello Road, em Notting Hill, é o que há. As casinhas em estilo vitoriano, com suas fachadas coloridas, e as lojinhas de objetos de decoração, joias e livros antigos são imperdíveis. O bom é ir num sábado pela manhã e terminar o passeio no Churchill Arms (numa rua que liga Notting Hill a Kensington Street), um dos pubs mais famosos da região e o que eu mais frequentei por estar localizado a apenas duas quadras de onde eu morava.





E os parques londrinos? 


Adorava o café do Holland Park. Tinha altos concertos gratuitos!

Kensigton era a extensão da minha casa pra tudo, até pra chorar nos momentos dureza!
Vivi entre Holland Park e Kensigton Park. Um luxo, ou melhor, dois! Mas, os que eu mais gostava de ir ficam longe. Deixe de novo o preconceito de lado e se jogue em East London. Pegue a  Central Line até Bethnal Green Station e vá caminhando a um parque dos mais bacanas, o Victoria Park, que é bem sossegado.

Hampstead: Costumava tomar banho aí e fazer piquenique no verão 
O parque Number One é o Hampstead Heath, também fora do circuitão. De lá, você tem uma das mais belas vistas panorâmicas da cidade – depois do London Eye, claro! – e de quebra conhece a casa onde Karl Marx escreveu o Capital para depois discorrer sobre as ideias marxistas tomando algumas pints num dos inúmeros pubs das redondezas.

O Soho é uma efervecência de diversidades!
O SOHO, com todas as letras em maiúsculas mesmo, é outra parada obrigatória. Um lugar super badalado que reúne várias tribos, inclusive é a rua mais desejada da cidade para o consumo, a Carnaby Street. Tem muito restaurante bacana para todos os bolsos e lojas incríveis de designs. Costumava ir ao Busaba, um thai food muito bom. Sem dúvida, um dos bairros mais cool de London Town!


Saudade de tomar café no Pret à Manger antes de entrar no tube

Ming the gap, stay clear of the doors. Quem já esteve lá sabe do que estou falando. Do Tube, o famoso metrô de Londres. Aliás, compre um travel card e vá desbravar a cidade de underground, pois a malha cobre quase toda a cidade e, quando não, permite fácil acesso aos trens metropolitanos. O legal do metrô é que você encontra uma pequena mostra desta cidade cosmopolita: do punk à inglesa montada para uma balada! Quem vai pra balada em Londres (não, a noite não termina quando os pubs fecham!), tem que pegar pelo menos uma vez os famosos NIGHT BUS. Pense numa extensão de farra! 

Os festivais de jazz, de verão, de inverno, os museus, as lojas de conveniência dos indianos, as famosas Off License, as galerias de arte. Tudo, mas tudo naquela cidade é IM- PER-DÍ-VEL. Até os supermercados. Se quiser economizar, compre no Tesco. À procura de um mimo a mais para um evento especial, vá ao Marks & Spencer. O Sainsbury’s é o meio termo dos dois.

Ah, parada obrigatória para os amantes da boa música: 606 Jazz Club, que fica num dois bairros mais charmosos, o Chelsea. Lá tem ainda um mercado fofo e um supermercado espetacular só de produtos orgânicos!

Agora diz: Londres está ou não me chamando? Corra, Lolô, Corra! Mas, antes junte um dinheirinho e prepare o bolso para gastar pounds....

See you ASAP, London!


quarta-feira, 11 de abril de 2012

As várias faces de Pessoa


Nem só de comilança sobrevivemos às noites insones. Quem é ansioso, sabe que a insônia é uma das principais consequências desta agoniazinha que vai deixando nosso coração acelerado e a cabeça a mil por hora. Sabe como é ruim não conseguir desligar a tomada do juízo. O pior é quando ela vai se prolongando, as horas passando e você perambulando pela casa, já batendo o desespero com o relógio indicando que daqui a pouco surgirão os primeiros raios de sol. Por isso, de uns tempos para cá tomei umas decisões. Parei de lavar banheiros ou arrumar armários e resolvi fazer algo mais legal como ler ou escrever.Na minha última insônia, a lua me inspirou e resolvi reler alguns poemas do meu amado Fernando Pessoa. 

 “O poeta é um fingidor
 
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente”. (Autopsicografia, Fernando Pessoa, Livro do Desassossego)


Falar de Fernando Pessoa não é apenas falar do maior poeta de todos os tempos. Falar de Pessoa é falar de um poeta que, como poucos, carregou nas tintas e no papel para expressar todo o sentimento do mundo. Como todo gênio, era dono de uma personalidade controvertida. Sua obra é vasta, afinal, Pessoa é vários poetas numa única pessoa. Definitivamente único!

Teve uma vida de perdas. Ainda menino, perdeu o pai, depois o dinheiro, a casa, a irmã. E foi morar na casa da avó louca, a Dionísia. Morreu aos 47 anos de cirrose hepática em Lisboa, sua terra Natal, sem o devido reconhecimento.

Ao longo da sua vida, Fernando Pessoa fingiu tão completamente ser outros que não conseguiu encontrar a si mesmo. Mas isso, o próprio se justificava. Para o poeta, o “fingimento é a forma de chegar à verdade essencial, e só se pode chegar à verdade essencial através do poema”.

Pessoa fingiu, foi vanguarda, polêmico, popular, poeta dramático, e estava sempre em busca do ser, do seu Eu Profundo e dos outros eu (bela obra dele). Foi tão grande a sua criação que acabou se perdendo de si mesmo:

“Quem sou, que assim me caminhei sem eu

Quem são, que assim me deram aos bocados
À reunião em que acordo e não sou meu?”


A poesia de Pessoa é transgressora. Romântica. Mística. Oculta. Profunda. Densa. Mas, a verdade mesmo da poesia de Fernando Pessoa é que o mundo levou muito tempo para descobri-la. Aliás, tem gente que ainda acha Fernando Pessoa um chato, um “drama em gente” como o próprio costumava dizer. Pobre dessas pessoas que não descobriram a verdadeira essência em Pessoa. Ainda é tempo para descobri-la, seja em Ricardo Reis, Álvaro de Campos ou Alberto Caeiro, seus heterônimos.

E para encerrar essa postagem, despeço-me de vocês com um dos meus preferidos:

Encerrando Ciclos

“Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..E lembra-te : Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”

C’est ça!