domingo, 28 de agosto de 2011

Ainda dá tempo de ir....




Quem ainda não foi, ainda dá tempo de correr para assistir no cinema ao inesquecível  A Árvore da Vida. A começar que é um filme fora dos padrões. Talvez isso explique o incômodo gerado em algumas pessoas que, logo no começo da projeção, saíram da sala em debandada. É um filme transcendente.Que aborda as questões da vida humana, com todas as nossas contradições, dúvidas e beleza. É arrebatador, de uma densidade sufocante, assim como é a vida. Tudo nesse filme é superlativo!

A partir de uma história ambientada na década de 50, nos Estados Unidos, o filme atrela a vida de uma família - com suas perdas, mediocridades, frustrações e fraquezas - com a grandeza do universo, desde a sua criação. A fotografia é bela, assim como a trilha sonora. O tempo é o personagem principal do enredo através do qual o passado e o futuro se confundem.

Perdas, dúvidas religiosas, conflitos familiares, finitude humana. Aqui, todas as questões da dimensão humana são tratadas profundamente, embora com pouquíssimos diálogos. É um filme para ser visto. A mim me tocou profundamente. Chorei do começo ao fim. “A menos que ame, a sua vida passará rapidamente”!



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Só garotos...



A primeira vez que ouvi falar deste livro foi após ler, através do Facebook, a recomendação entusiasmadíssima de Xico Sá (Ali sabe das coisas!). Foi um dos melhores livros já lidos por mim nos últimos tempos. Que leitura comovente! De uma verdade tão crua que nos remete ao estilo rodrigueano de a vida como ela é.   

Só garotos é uma autobiografia cativante escrita pela artista Patti Smith, que revive sua história ao lado do fotógrafo Robert Mapplethorpe, enquanto os dois tentavam ser artistas e transformar seus impulsos destrutivos em trabalhos criativos. Eram jovens que se amavam, passavam fome juntos e não podiam viver separados. O relato de Patti traça a metamorfose pessoal e artística do casal.

Nascida numa família pobre de Nova Jersey, Patti Lee se muda para Nova York aos 20 anos, após entregar seu filho para adoção. Ela parte em busca da arte, na década de 60, e vivencia de perto o auge da contracultura norte-americana. Leitora de Rousseau e devota da poesia transgressiva de Arthur Rimbaud e dos beatniks Allen Ginsberg e Jack Kerouac, Patti Smith, de 64 anos, é uma intelectual do rock.

Mapplethorpe ficou famoso por seus retratos nada convencionais. Sua principal modelo foi Patti Lee: de  terno, hippie, coberta com lençol indiano, etc. - o que importava era registrar a essência por trás daqueles trajes. Só garotos mostra a trajetória de dois talentosos artistas em busca da arte e da liberdade. Dois jovens artistas que, em nome da estética e da vanguarda, apostaram na ousadia para impor uma arte vigorosa em oposição ao mundo massificado da indústria cultural.

O livro é verdadeiro desde a primeira linha quando ela diz: “Tem gente que nasce rebelde”. É comovente pela sinceridade destemida da artista, que revela suas fragilidades com uma coragem arrebatadora. Nele, não há julgamento de ideias, nem de atitudes. É um livro que fala de amizade, lealdade e cumplicidade, de uma forma tão nobre e intensa que nos leva às lágrimas! De tirar o fôlego, no sentido mais literal do termo!

domingo, 21 de agosto de 2011

Mulher nova, bonita e carinhosa...


Passei tanto tempo sem escutar que eu tinha até esquecido como é bom o trabalho dessas três cantoras maravilhosas. O projeto Três Meninas do Brasil foi uma daquelas ótimas surpresas descobertas bem por acaso quando comprava um CD para dar de presente de aniversário. Não resisti ao escutar “mulher nova, bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor...” Amo, amo, amo! Quem quiser que não ache, mas Zé Ramalho é um talento!

Fiquei mais doida quando ouvi: “Numa tarde linda, eu me lembro ainda, do velho cais dourado, sambando, esquirondo, eu vi a moreninha, esquirondo, batendo as tamanquinhas, esquirondo, e eu maravilhado...” Vixe, a cara da minha infância ainda por cima!

Acho o projeto Três Meninas do Brasil bacana por mostrar a diversidade da música brasileira, além de unir três ótimas intérpretes, de diferentes regiões: a maranhense Rita Ribeiro, a carioca Teresa Cristina e Jussara Silveira, que é mezzo baiana, mezzo mineira. As músicas de Marisa Monte e Zeca Baleiro convivem harmonicamente com canções de Dorival Caymmi e Paulinho da Viola.

A viagem passa por Moraes Moreira (Meninas do Brasil), Tom Zé (Menina Amanhã de Manhã), Sérgio Sampaio (Maiúsculo), Caetano Veloso (Nu Com a Minha Música e Dama do Cassino), Chico Buarque (Ludo Real), Carlinhos Brown (Seo Zé), Dominguinhos (Isso Aqui Tá Bom Demais) e até mesmo o praticamente esquecido Márcio Greyck (Impossível Acreditar Que Perdi Você). Elas ainda resgataram a linda Chula Cortada, de Roque Ferreira!

A direção musical é de Jaime Amorim, maestro de Maria Bethânia há mais de 20 anos. O CD e DVD, lançado pelo Biscoito Fino, é resultado de um show realizado em Niterói em 2008. É para escutar sem parar!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Os dominós de Patrício



Fiquei simplesmente maravilhada quando vi pela primeira vez a obra de José Patrício no Mamam. Era uma instalação enorme de dominós de plásticos que formavam no piso um belo mosaico colorido. No texto de abertura, o então curador Moacir dos Anjos falava da metáfora utilizada pelo artista ao impor a rigidez do jogo, que apesar de suas regras fixas, organizava-se em vários movimentos. De fato, impressionante!

Muitos anos depois reencontrei sua arte na galeria Mariana Moura quando fazia assessoria de imprensa de lá. Aliás, a dona e o espaço são ótimos! A exposição Vuco-Vuco trazia uma série de combinações de jogos feitos a partir de diversas peças de dominós, pregos e botões garimpados nos arredores do Mercado de São José - mais conhecido como vuco-vuco. O artista ainda fazia um experimento com o acrílico na base para a colocação dos jogos de dominós. Como suporte, havia a exibição de um vídeo com o registro de todo o processo de criação dele.

A partir dali, passei a sonhar com um quadro de José Patrício na minha casa, daqueles bem grandes. Enquanto o sonho não se concretiza, estou feliz com os meus dois pequenos jogos pendurados cuidadosamente e carinhosamente numa pequena, mas destacada, parede da minha casa. São minhas pequenas “grandes” obras!

José Patrício é hoje um dos artistas plásticos mais valorizados nacionalmente, com uma aceitação muito boa no mercado internacional. Sua obra se caracteriza pela ambiguidade; subjetividade e objetividade, acaso e precisão são dicotomias presentes em sua arte. As instalações de Patrício com os dominós podem ser vistas sob a perspectiva formal ou conceitual. Depende do olhar de cada um. Isso que é muito bacana! O artista cria bonitas composições, às vezes com efeitos óticos, valendo-se das configurações estabelecidas pelos pontos nas pedras, pelas diferentes cores e materiais das mesmas, e pela estrutura serial.

Recentemente foi lançado o livro José Patrício: Cogitações sobre o Número, organizado pelo curador e crítico de arte carioca Paulo Herkenhoff. O livro aborda o trabalho da arte visual deste artista pernambucano diante da materialidade do signo numérico, através de objetos lúdicos e do nosso cotidiano. Recomendo! Ele está à venda na Livraria Cultura, por R$ 95,00.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Um gênio chamado Cole Porter!


Eu tenho um fascínio pela vida deste compositor norte-americano que não é brincadeira. Aliás, eu e a torcida do Flamengo! Nunca conheci uma pessoa para me dizer que não curte Cole Porter. Mesmo os que não o conhecem tão bem, gostam de suas canções na voz de outros artistas famosos. Frank Sinatra popularizou Night and Day e Diane Krall fez muito sucesso com I've Got You Under My Skin.

Além da fama que alcançou por conta do talento – suas músicas são de uma sofisticação ímpar -, Cole Porter gerou muita controvérsia na vida pessoal. Bon vivant nato, seu gosto pelo luxo e pela extravagância fez dele um dos nomes mais glamourosos de todos os tempos.

Porter era homossexual assumido, mas casou com a viúva de um banqueiro, Linda Lee Thomas, com quem viveu por mais de vinte anos entre Paris e Nova York. Só a morte dela foi capaz de separar um dos casais mais badalados e polêmicos da década de 30, apesar dos altos e baixos da relação. Boêmio e muito cobiçado, Cole Porter convivia entre o luxo e a fama, além dos muitos prazeres com os garotos da época.

Era uma época de muita efervescência. Era do Jazz, de Coco Chanel, de Pablo Picasso, de Ernest Hemingway. Após sofrer um acidente, Cole Porter teve sérios problemas de saúde. Apesar da fama e do glamour, um dos compositores americanos mais populares morreu na mais completa solidão e alcoólatra. Uma injustiça! 

Algumas de suas músicas foram imortalizadas no cinema e na Broadway. Ele compôs mais de 500 canções, dentre as quais 100 foram eternizadas pelo cinema.  Sua música popular ficou famosa na voz de diversos interpretes, um dos mais famosos, Frank Sinatra.

Vale a pena pegar na locadora o filme De Lovely, uma biografia deste famoso compositor. Caetano Veloso interpreta lindamente So in Love, um de seus maiores sucessos, no ótimo Foreign Sound.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

C'est pour moi!

A primeira vez que assisti ao Fabuloso Destino de Amélie Poulain foi num lugar nada menos chamado Notting Hill quando morava na minha amada Londres. Como a história daquela simpática garota de Montmartre me tocou! Ali recomeçava o meu caso de amor eterno - aparentemente esquecido - com a França! Paris é um daqueles lugares que não cansa nunca. Vários amigos já compartilharam comigo o sentimento de se emocionar ao pisar em Paris, mesmo não sendo a primeira vez.

Voltando à garota da charmosa Montmartre, quanta sutileza! Afinal de contas quem não tem um pouco de Amélie? Quem não cria para si uma fábula tão apaixonante e uma visão otimista da vida? A direção de arte é primorosa, Audrey Tatou está perfeita no papel e a comovente trilha sonora dá um charme todo especial a este filme , que nos leva a um sentimento de nostalgia e leveza. Um filme que comove e apaixona!

Composta por Yann Tiersen, as músicas dão o tom do filme. Se tivesse de escolher uma trilha sonora da minha vida, esta teria fortes possibilidades de ganhar o posto. E ainda por cima, o meu primeiro presente de Natal do meu então namorado (que hoje se tornou meu companheiro de todas as horas) foi o CD de Amélie Poulain. Luxo e riqueza!

Além deste filme, Yann Tiersen também assinou a ótima trilha sonora do filme Adeus, Lênin! Nascido na Bélgica – e radicado na Franca, este jovem compositor de 42 anos é considerado um músico de vanguarda e minimalista. Ele é multi: toca piano, sanfona e violino. E ainda compõe para o teatro. Voilà! Cette bande originale n’est pas pour elle, Amélie. Elle est pour moi!

Bon week-end et à lundi, mes amis!


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

um filme sobre o belo!



Li essa novela de Thomas Mann há uns 10 anos. Como amo tudo - pelo menos os livros que eu li - deste grande escritor alemão, adorei! É uma obra densa. Recentemente, cansada das programações Déjà vu daqui de Recife, sugeri a meu marido (que topou prontamente!) irmos a uma sessão do cineclube Cinema & Psicanálise, sábado à tarde no auditório da Academia Pernambucana de Medicina. Seria exibido o filme Morte em Veneza, nunca visto antes por esta que vos escreve, seguido de um debate com ninguém menos que Alexandre Figueirôa.

Figura super cult desde os meus tempos de Católica, Figueirôa é crítico de cinema, jornalista (atualmente coordena o curso de jornalismo da Unicap) e recentemente - li numa revista - adotou uma invejável eco e bacana way of life em Vila Velha. Não disse no começo deste parágrafo que Figueirôa era cool?

Voltando à sessão do Cine & Psiquê, foi uma das tardes de sábados das mais agradáveis. Ao contrário do que acontece normalmente, o filme não é menor do que o livro. Após a exibição, assistimos a uma ótima discussão sobre Morte em Veneza, do italiano Luchino Visconti. Os comentários a seguir são frutos do que vi e ouvi nessa sessão especial.

O compositor Gustave, personagem principal, viaja para Veneza em busca de paz diante de uma crise existencial. Ao chegar à cidade, adoece. Ao colapsar também com seu processo de criação, ele passa a refletir sobre a finitude da vida. A cena da ampulheta sugere uma parábola sobre a existência humana. Parênteses: Na narrativa de Mann, o personagem central é um escritor, mas Visconti o transforma em músico.  

O filme não sugere apenas uma reflexão sobre a nossa transitoriedade, mas nos leva a pensar também sobre a dissolução da capacidade criativa do sujeito. Gustave é o arquétipo de um ideal de cultura europeia, do final do século XIX, que se dilui. São os indícios dessa tal modernidade. E, como diz o badalado sociólogo Zygmunt Bauman: “A modernidade é líquida”!

Ao som de violinos e pianos, ele tem seu primeiro contato no salão do hotel com Tadzio, ou melhor, com a beleza em sua forma idealizada. Mas, afinal, o que é a beleza? Um sentido do homem ou uma dimensão espiritual? O contato com Tadzio atiça em Gustave diversas reflexões sobre o belo, a arte e o papel do artista. São metáforas que não podem ser ignoradas e ajudam na apreensão do filme.

O fascínio de Gustave pelo jovem só cresce no decorrer de Morte e Veneza, assim como a sua angústia. A sensação de  prazer se mistura a de desespero. Como o compositor é um moralista nato, típico de seu tempo, nada pode modificar a sua compreensão acerca do belo, que é intocável. Mas, quando filtrado pelos nossos sentidos, o belo é maculado!

A busca pelo sublime se contrasta a uma praga que ataca Veneza, trazendo à tona a decadência e a miséria. É difícil imaginar uma Veneza feia, hein! Mas Visconti consegue mostrar exatamente o contrário dos nossos ideais estéticos da beleza.

Ao perceber a eminência da morte, Gustave se dissolve assim como a cidade tomada pela peste. A cena final na praia deserta nos transporta à última etapa do amor platônico de Gustave por Tadzio, representado ali por um Deus grego da mitologia. A ambivalência se faz presente no filme: a morte que o aprisiona é, ao mesmo tempo, a que vai libertá-lo!

Belo filme!


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A cabidela, eu e o cinema!


Comer é um dos maiores prazeres da minha vida. Não entendo quem não dá valor ao ato de comer. Ultimamente tenho apreciado bastante uma comida caseira, sobretudo os hábitos alimentares do interior. Só de lembrar da galinha de cabidela que Saboga (um cozinheiro do meu eterno Manso querido) preparava, minha boca já enche de água. Literalmente! Aliás, essa mania (ou melhor, característica) vem de outrora; parece que o meu filho João Francisco, de dois anos, está caminhando nessa mesma direção.

Não sei que danado de tempero o pessoal coloca no interior que o sabor fica diferente. E nostálgico! Acho que nos remete a um passado bem distante. Como é gostosa uma galinha de cabidela bem preparada! Para os que não sabem, a cabidela é o molho à base de sangue da ave. Dizem que o poulet en barbouille, como o nome indica, surgiu na França. Voilà!  Mas, há controvérsias. Em Portugal, há a famosa galinha de cabidela do Alentejo. Eça de Queiroz cita essa iguaria diversas vezes em seus romances.

Independentemente da sua origem, sem dúvida, comer é muito mais do que saciar a fome. Além do ritual que envolve o preparo dos pratos, o simbolismo em torno das refeições é muito forte. Que o diga Gilberto Freyre! E a sociologia da gastronomia, que anda tão em voga. Se a gente parar para pensar, boa parte das coisas boas (e ruins também!) da vida acontece quando estamos reunidos em torno de alguma refeição.

A culinária vem sendo aprimorada ao longo dos anos. E cozinhar se tornou uma arte cada vez mais sofisticada que o cinema soube captar muito bem. Isso me faz lembrar um dos filmes mais deliciosos, poéticos e delicados que já vi: Comer, beber e viver, de Ang Lee. Um pai e suas três filhas se reúnem uma vez por semana em torno de belas refeições. A comida é pano de fundo desses encontros e desencontros, amores e desilusões. Tudo isso posto à mesa sempre aos domingos. Ang Lee em sua melhor forma!


Recomendo demais!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Baudelaire e as ruas de Paris


Eu tinha acabado de ser aceita pelo ótimo professor Jonatas Ferreira como aluna especial no programa da pós-graduação de Sociologia da UFPE (aliás, se hoje estou fazendo o mestrado, Jonatas tem sua parcela de contribuição), e logo na primeira aula nos foi apresentado o programa da disciplina de Modernidade e Pós-Modernidade.

Foram quase seis meses de discussões riquíssimas sobre estética, vanguarda, romantismo, expressionismo alemão, escola de Frankfurt e afins, embora muitas vezes eu saía da aula com vontade de abandonar e desistir de tudo. Não vou conseguir! Esse pensamento se tornou um mantra no meu juízo! Mas, os temas eram instigantes demais e assim fui indo.

O segundo seminário era sobre Baudelaire e a modernidade. Jonatas olhou pra mim com aquele jeito meio de brabo (que medo!), apontou, e disse: você faz esse seminário! Putz, me ferrei! Apesar de badalado e de todos falarem de Baudelaire com tanta intimidade, eu pouco sabia sobre a vida e obra desse poeta parisiense. Mas, não tinha saída a não ser estudar. No final deu tudo certo e Baudelaire ganhou mais uma fã!

A cidade é tema da lírica moderna de Charles Baudelaire. Assuntos referentes à boêmia, ao flâneur (o vagabundo que perambula pela cidade sem propósito) e à modernidade fizeram parte da poesia urbana desse francês que morreu na pobreza total. Considerado o pai da modernidade, ele coloca em xeque o progresso meditando sobre esse conceito. Mais do que um cânone moderno, Baudelaire é o retrato de uma sociedade em transformação.

Os fenômenos da vida cotidiana da Paris do século XIX são o centro da reflexão das mudanças socioeconômicas ocorridas freneticamente naquele momento. Através de seus personagens (o flâneur, o boêmio, o dândi e o trapeiro), Baudelaire desafia as regras do jogo social.

Sempre que falo em Baudelaire me vem logo à mente o genial João Antonio, com seu Malagueta, Perus e Bacanaço. Eu ainda guardo com muito carinho a minha surrada edição desta obra-prima, adquirida nos velhos sebos da paulicéia. Finalmente ganhou o status que merecia. A Cosac Naify reeditou vários livros dele. Um primor! João Antonio, nego, você merece um post só seu!

A modernidade de Paris



Através de uma pequena análise do poeta francês Charles Baudelaire, podemos entender a cidade moderna como um terreno privilegiado para expressarmos alguns dos elementos que constituem a modernidade. As novas relações sociais que emergiram após as revoluções de 1848 na França demonstraram que a cidade é o locus da civilização moderna, dos seus conflitos e da sua organização social. Foi nela que Baudelaire montou o seu “laboratório”, retirando as suas impressões sobre a realidade social que o cercava, marcando assim o seu período histórico.

A realidade que cercava Baudelaire era a de mudanças na estrutura da sociedade ocidental, nos séculos XIX e XX, com o evidenciamento da vida urbana e com a instauração de uma nova ordem burguesa e capitalista. A industrialização legou à Paris de meados do século XIX um aumento considerável da sua população urbana e, consequentemente, uma intensificação do tráfego.

A reforma urbana de Paris foi pensada como uma solução para os problemas de circulação. Luís Napoleão (1808-1873), que estivera exilado na capital inglesa, presenciou as reformas londrinas e aplicou-as a Paris quando subiu ao trono francês (1852-1870). Georges Haussmann, prefeito de Paris, graças a um mandato imperial de Napoleão III, começara a implantar uma vasta rede de bulevares no coração da velha cidade medieval.

A Paris do Segundo Império no século XIX, em que o poeta viveu, sofreu essas transformações por meio do surgimento de uma vida urbana, da construção de grandes avenidas, mercados, teatros etc, fazendo com que a convivência das pessoas se transferisse de suas casas para as ruas cada vez mais movimentadas da cidade e com que diversas classes sociais se defrontassem num mesmo local. Os novos bulevares permitiram ao tráfico fluir pelo centro da cidade e mover-se em linha reta, de um extremo a outro.

Pintor da vida Moderna



Em O Pintor da Vida moderna, o poeta francês Charles Baudelaire descreveu e analisou a obra do pintor Constantin Guys, que, para o autor, captou alguns dos aspectos definidores da vida moderna - a instantaneidade, o transitório, o fugidio e o contingente. Leitura mais do que recomendada!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Uma agradável descoberta



Aqueles que me conhecem sabem que ir ao cinema é um dos meus programas preferidos. Há uns quatro meses, assisti a uma ótima comédia italiana, O Primeiro que disse, no Cine Rosa e Silva. Aliás, um dos melhores lugares do Recife para ver filmes bacanas. A película é audaciosa. Isso porque o diretor escolheu um gay para ser o galã do filme de um país, como a Itália, extremamente machista e que se orgulha disso.

Tudo bem que essas características poderiam ser facilmente identificáveis no Brasil ou qualquer outro país da América Latina. Mas, a figura do homem másculo, charmoso e bronzeado, com aquele olhar penetrante e com todos os outros atributos possíveis - que permeia o imaginário da mulherada - é a do italiano. Sem dúvida! 

Em uma viagem de regresso de Roma, onde estuda literatura e vive com seu namorado, Tomaso decide contar a seus pais que é gay. Mas, quando ele finalmente vai falar na frente de toda a família, seu irmão mais velho, Antonio, acaba com seus planos ao se antecipar que também é gay. Bem, aí começa a tragicomédia da família italiana.

O filme é dirigido por Ferzan Opztek, de origem turca, gay assumido e estrangeiro.  Apesar dessa mistura explosiva, o diretor vem ganhando muita notoriedade na Itália e nos festivais internacionais de cinema. É um filme primoroso que denuncia as mazelas da hipocrisia naquela sociedade machista onde continuam a valer mais as aparências e a mentira. Uma crítica social e de costumes feita com maestria e, principalmente, muito bem-humorada!

O curioso foi perceber na plateia local alguns risos constrangidos causados por cenas que pareciam ter uma certa familiaridade com a vida real, do lado de fora da grande tela. Afinal de contas, quem não tem um gay na família? Aliás, vou logo tomar partido, coisa que costumo fazer com frequência. Adoro gay, defendo a união estável e adoção entre pessoas do mesmo sexo! Sejamos livres, sobretudo, de preconceitos!

Sim, mas voltando ao título desse post, a agradável surpresa foi Nina Zilli, cantora que assina a trilha sonora do filme. A pop star italiana é extremamente cool e tem como principal influência ninguém menos que a diva, a minha adorada Amy Winehouse.






Nina Zilli é pra escutar sem parar!  

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pra começar, Márai, o divisor de águas!


Meu primeiro encontro com Márai foi em As brasas há uns quatro anos. Fui apresentada por meu querido amigo Lula Arraes, médico, escritor e um grande conhecedor de literatura. Esse livro mudou a minha vida, foi um divisor de águas de tão impactante. Por dois anos, Márai passou a habitar a minha cabeceira, mas nenhum livro dele se compara às Brasas. Digo isso após ter lido uns 5 a 6 livros desse húngaro que se matou com um tiro na cabeça exilado nos Estados Unidos. Nem mesmo o badalado De verdade.

A história se passa durante o Império Austro-Húngaro, no início do século XX, e o protagonista é Henrik, um velho general que dedica boa parte da sua vida a um acerto de contas com um antigo amigo, Konrad. A forma como Sandor Márai constrói o personagem, os cenários e os ambientes daquele período faz com que a gente vivencie completamente todo o sentimento do general. O desenrolar desse ajuste de contas é um dos textos mais belos e densos que já li. O general (ou talvez Sandor Márai, o livro parece meio autobiográfico) discorre sobre o entendimento dele acerca da amizade. Quanto mais Henrik tenta explicar esse sentimento, menos entendemos o significado das coisas. É de tirar o ar!

Márai tem um texto elegante, sem excessos, nem pedantismo. De uma fluidez incrível. O autor discorre sobre amizade, amor e honra, sentimentos que não se deixam aprisionar pelo tempo. E só pra dar um gostinho, lá vai um trecho do livro: "A morte tem uma força de imaginação semelhante à da vida... Os homens contribuem para o próprio destino, determinam certos fatos que vão acontecer com eles. Chamam o destino, apertam-no contra si e não se separam mais dele. Agem desse modo mesmo sabendo desde o início que esses atos terão resultados nefastos. O homem e seu destino se realizam reciprocamente, moldando-se um no outro. Não é verdade que o destino se introduz às escondidas em nossa vida: entra pela porta que nós mesmos escancaramos, pondo-nos de lado para convidá-lo a entrar”.

À demain!


Lolô sou eu

Isso mesmo. Sou Lolô. Passei anos detestando esse carinhoso apelido dado por minha querida mãe quando eu tinha uns cinco anos. Foram várias as tentativas - todas fracassadas - para esconder meu apelido de todo mundo. Lolô era uma simpática menininha, gorduchinha, engraçadinha da novela Escrava Isaura. Minha mãe me achava parecida com ela. Por que será, hein?

E ficava o tempo inteiro perguntando: “Tá com raiva, Lolô?” Na época, eu respondia cheia de graça, segundo relatos, com a carinha gorduchinha, fofinha, e todos os ...inhas da vida: “Não, Lolô!” Não é que o apelido pegou e atravessou gerações!?! Além dos meus pais, das minhas duas irmãs e da minha querida babá, a nega Bal, o meu marido de tanto escutar, começou a me chamar carinhosamente de Lolô.

E pasmem, depois de tanta negação, a aceitação de Lolô hoje é total e irrestrita. O nome desse blog fala por si só. Adoro!

O começo de tudo

Passei anos relutando e resistindo contra um forte desejo de ter meu próprio blog. Pra quê? Era o que me vinha à cabeça. Na verdade, sempre tive receio, quer dizer, medo mesmo de me expor ao ridículo e uma certa (pra não dizer enorme) necessidade de ser aceita. Aqui, entende-se por milésimos views. Felizmente, a maturidade é uma excelente aliada para deixarmos essas bobagens de lado e irmos adiante no que queremos fazer. 

Mal começo a escrever e já recorro ao meu querido companheiro de tantos anos, o velho Pessoa. Em cartas de amor, imortalizadas na voz de Bethânia, o sábio poeta português dizia que todas elas eram ridículas, mas quem nunca escreveu uma carta de amor era o verdadeiro ridículo.

Fazendo-me valer dessa máxima, começo hoje a escrever as minhas cartas de amor que, em tempos modernos, podem ser entendidas como posts. Meu amor aqui será declarado, não tenho medo mais do ridículo. Diariamente, pelo menos é o que proponho a mim mesma, irei declarar meu amor a algo ou alguém. Amor à palavra, aos livros, ao cinema, à arte, à música, aos velhos (isso mesmo, amo os velhinhos!), às pessoas, aos gestos, à multidão perdida de Baudelaire e ao sertanejo que, como já dizia um tal de Euclides, é antes de tudo um forte.

A menos de um ano de completar 40 anos e após quase 10 anos de análise, tornei-me mais destemida. Já sei até lidar com meus fracassos e vibrar com as pequenas conquistas diárias! Mas, o maior avanço mesmo é reconhecer publicamente a origem de Lolô.