quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Humano, demasiadamente humano!


Tudo bem, isso não é novidade, mas não custa nada lembrar algumas das atribuições que nos fazem uma pessoa melhor. Praticar a escuta se tornou para mim um mantra nos últimos anos. Entende-se aqui por: abrir o coração, livrar-se de preconceitos, não impor conhecimentos, aceitar a diversidade, evitar julgamentos em função de impressões, não ignorar o outro e, sobretudo, respeitar as verdades de cada um. Mesmo que isso gere uma discussão daquelas! Nada que uma cerveja não dissolva qualquer mal-estar.

Sempre quando passava sobre o viaduto Joana Bezerra me perguntava como era a vida na comunidade mais estigmatizada do Recife. Não é possível que só haja marginal ali! Recentemente, tive a grata surpresa (ou melhor, privilégio) de ver, em primeira mão, o livro Senhoras do Coque, produzido pela Rede Coque Vive, da qual faz parte uma querida colega de mestrado, Rafa, que me acompanha desde quando éramos apenas alunas especiais em busca de uma vaga no concorrido mestrado de Sociologia.   

O livro traduz exatamente o meu entendimento sobre o que é uma escuta aberta. Nele, são contadas de forma bastante singela – como a vida dessas criaturas - as histórias de Dona Paulina, Dona Zezé, Dona Valda, Dona Luiza e Dona Geralda. São relatos de amizade, de valores, de alegria, de sofrimento e de fé. Sem dúvida, há vida em abundância dentro do Coque, e não meras estatísticas. Aquela comunidade pulsa e nós a maltratamos demais.

A narrativa do livro é bastante comovente. Comove pela simplicidade do texto e pelo respeito em preservar a fala do entrevistado, deixando-o extremamente original.  Nele, adentramos na vida como ela é daquelas pessoas que sofrem, amam, perdem – no sentido mais cruel do termo -, choram e se divertem com as coisas mais simples do mundo! Pessoas como nós, pessoas desprezadas por nós! Em Senhoras do Coque, tudo é simples, tudo é singelo, tudo é humano, demasiado humano (Niezstche).

Parabéns aos que fazem parte deste lindo projeto. Parabéns a Rede Coque Vive, parabéns a Chico Ludemir, a Maria Liberal, a Rafaela Vasconcellos e a Sandokan Xavier.Aqui vai também o meu parabéns especial ao Frei Aloísio Fragoso que, apesar de não estar diretamente no livro, levou-me através de duas missas a conhecer mais de perto e ajudar a comunidade do Coque.

Uma salva de palmas para as Senhoras do Coque! E todos os que fazem parte dela, sem dúvida, um dia agradecerão pela dignidade que essa moçada da Rede Coque Vive está devolvendo para a Comunidade, com C maiúsculo mesmo!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

The British Style II – Persuasão


Simplesmente adoro os filmes ingleses de época, sobretudo aqueles baseados nos romances de Jane Austen, tão ricos em sentimentos. Recentemente, assisti ao delicado Persuasão. Absolutamente encantador! Só para lembrar que os ótimos filmes Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade são inspirados nos livros de Austen. Através da sua escrita, a autora critica com maestria (e ironia) o comportamento conservador da época.

Jane Austen dispensa recomendações. Persuasão é uma linda história de amor inicialmente intensa, depois totalmente desprezada e, por fim, sucumbida até chegar à redenção. Apesar de soar clichê, a intensidade de seus personagens e a crítica aos padrões morais da época afastam qualquer ideia de lugar-comum, mesmo a história e os personagens nos parecendo tão familiares.

O enredo gira em torno dos amores de Anne Elliot que se apaixonara pelo pobre, mas ambicioso jovem oficial da marinha, capitão Frederick Wentworth. A família de Anne não concorda com essa relação e a convence romper seu relacionamento amoroso. Muitos anos depois, quando sua família entra em bancarrota total, Anne reencontra Frederick, agora cortejando a sua amiga e vizinha, Louisa.

Persuasão é uma simpática história de amor, de trama simples e bem elaborada, e mostra o estilo de narrativa irônica de Jane Austen. Além disto, é original pelo fato de ser uma das poucas histórias da escritora que não apresenta a heroína em plena juventude. A história é situada em Bath, um balneário romano termal ao norte de Londres, onde Jane Austen viveu entre 1801 e 1805 e onde eu e minha irmã Mamá quase congelamos na neve em plena praça, durante um rigoroso inverno inglês de janeiro de 2001. De fato, um belo cenário inglês! Lovely!