quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Devolvi tudo...




Ok. Eu sei que o tempo é de carnaval. Mas, entre confetes e serpentinas, acho que não fica tão fora do tom eu me acabar de dor de cotovelo, escutando, falando e escrevendo sobre os efeitos da lama na alma de uma pessoa. Afinal de contas, como bem disse Moacir Franco, a nossa vida é um carnaval, a gente brinca escondendo a dor...

Tenho uma memória afetiva por Nubya Lafayette. Quando criança, todos os dias eu era acordada pelo radinho de pilha da negra Bá, já nos afazeres domésticos, escutando Devolvi o cordão e a medalha de ouro... Como era bom começar o dia daquela forma. Que saudade eu tenho de deitar a minha cabeça sobre os peitos imensos da minha amada negona.

O meu hino Último Desejo, do grande Rosa da Lapa, é sempre pedido por esta que vos escreve no meio de uma carraspana. A última foi na Feijoada do Betinho. No meio do maior sambão de Seu Riba, eis que encarecidamente suplico: Jorge, canta Noel! E começo. Nosso amor que eu não esqueço e que teve o seu começo...só sei que neste dia Mestre Riba me deu a honra de uma salsa (ou seria merengue?). E voltei pra casa feliz após ter celebrado a vida mais uma vez.

Bazinha, obrigada por me mostrar a lindeza da vida. Saravá, negona do meu coração.

Te amo e te dedico!



segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Uma memória imperfeita!




A primeira vez que ouvi falar em Julian Barnes foi em 2001 quando morava em Londres. Foi numa resenha do ótimo caderno de cultura do The Guardian, publicada aos sábados, que traz críticas literárias, gastronômicas, de filmes e afins. Estava lá no Caffè Nero do Soho, como de costume, quando li uma crítica sobre seu então romance intitulado Love, etc.

Na verdade, o que mais me chamou a atenção naquele livro foi a ilustração da capa que mostrava lindos sapatos, de verniz e bicolores do modelo Oxford. Devorei o Love, etc na semana seguinte e pronto. Apaguei este escritor da minha memória completamente. Vai entender...

Numa tarde de domingo de um não tão distante novembro recifense, pois, não pensei duas vezes quando me deparei na Cultura com o sugestivo título Sentido de um fim daquele escritor que eu tinha simplesmente retirado da minha memória. Comprei. Mas, por conta de afazeres domésticos e acadêmicos só fui ler o livro agora em janeiro.

É um livro sobre memória e identidade, com narrativa despretensiosa e envolvente. O narrador fala das ciladas que a memória nos apronta na vida. “O que você acaba lembrando nem sempre é a mesma coisa que viu”. A frase, dita por Tony Webster, protagonista desta narração, resume bem a ideia central da trama criada por Barnes.

No alto de seus 60 anos, desfrutando de uma aposentadoria pacata e tranquila, Webster descobre que é preciso fazer um acerto de contas com o passado. Como o próprio diz: "a história é a certeza produzida a partir do encontro das imperfeições da memória com a sua documentação inadequada".

Existe acumulação na vida. Existe inquietude no livro, uma inquietude que insiste em não sair dos nossos pensamentos.

Recomendo!