quinta-feira, 29 de setembro de 2011

É com esse que eu vou...



A gente não pode reclamar dos talentos da nossa música brasileira. Apesar de ter aparecido em diferentes momentos muita gente talentosa, nunca existiu artista que superasse a eterna diva Elis Regina. Meu Deus, como ela canta com a alma! Aliás, adoro as pessoas - comuns, célebres, anônimas - que colocam a paixão em tudo que fazem. 

Sou do time que defende essa bandeira, mesmo quando se está escrevendo uma tese de doutorado ou vendendo um produto. E é por conta dessa paixão que hoje esse post é dedicado à Elis Regina. Ah, só para deixar registrada uma feliz coincidência: Elis nasceu no dia 17 de março, a mesma data desta que vos escreve.  

Conhecida por sua presença de espírito e pela personalidade forte, Elis teve de enfrentar muito preconceito ao longo dos seus 36 anos vividos intensamente. Elis pagou um preço alto demais por querer ser ela mesma. Uma mulher inteira e intensa em tudo o que fazia. Verdadeira e controversa. Ela costumava dizer que cantar era um sacerdócio, o resto era resto. Nós, fãs, percebemos isso na força de sua interpretação.  

Não tem nada parecido com Atrás da Porta. E quando ela canta Arrastão num daqueles festivais? Sem falar nas É com esse que eu vou, Só tinha de ser com você (uma das minhas preferidas), Falso Brilhante, Fascinação, O Rancho da Goiabada, o Trem Azul, Águas de Março, com o Maestro Brasileiro. Vou parar por aqui porque a lista é grande demais!

Quando Elis morreu, em 1982, eu tinha apenas 10 anos, mas lembro perfeitamente a cena da minha mãe chorando copiosamente em frente à televisão ao ver o noticiário, como se Elis fosse da família. Essa cena nunca saiu da minha cabeça. Pelo contrário, a partir dela, minha paixão por Elis aumenta, aumenta, aumenta e atravessa gerações. Minha filhota Júlia, 5 anos, adora Águas de Março!

Para quem quiser relembrar Elis Regina, recomendo o excelente livro Elis, um furacão, escrito pela jornalista Regina Echeverria. Uma biografia maravilhosa que, segundo a autora, é um contraponto à tendência de canonizar figuras polêmicas. Nele, a gente conhece de fato a verdadeira Elis, com seus arroubos, paixões, virtudes e defeitos. “Este livro é a expressão plena da humanidade de Elis Regina Carvalho Costa”, resume Echeverria, amiga da cantora. 


Também recomendo essa maravilhosa caixa com 3 DVDs (Esse foi mais um daqueles presentes arrasa-quarteirão do meu amado Mauro). Tem Elis em diferentes momentos. Tem Elis com Adoniram Barbosa, Elis ao lado de Tom Jobim, sozinha, em festivais. É uma compilação maravilhosa daquelas obrigatórias de se ter em casa.

"Me tomam por quem? Um imbecil? Sou algo que se molda do jeitinho que se quer? Isso é o que todos queriam, na realidade. Mas não vão conseguir, porque quando descobrirem que estou verde já estarei amarela. Eu sou do contra. Sou a Elis Regina do Carvalho Costa que poucas pessoas vão morrer conhecendo".

Elis, para sempre Elis!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

The british style...


Ultimamente os ingleses estão em altíssima lá em casa. Já falei em algum post desses que eu tenho uma relação bipolar com Paris e Londres. Pelo que vocês vão ler hoje, o meu humor e amor pendem para o refinado The english style. E olhe que tenho uma certa propriedade quando o assunto é Londres!

Ao longo de várias gerações, a Inglaterra se destaca nas artes, na música, na moda, na vanguarda e na literatura. Eu só deixaria a culinária do lado de fora dessa lista, embora hoje eles torçam o nariz com essa afirmação. Ok! Há alguns pratos típicos legais, mas longe de ser uma referência gastronômica, apesar de os chefs midiáticos terem elevado o status da cozinha inglesa. Não posso falar de Londres sem ao menos citar o meu adorado “Hero” David Bowie e o refinado Oscar Wilde (tudo bem, o poeta era irlandês, mas passou a vida na sua Londres querida). Mas, para não me prolongar muito, ficarei apenas no cinema.

Ultimamente tenho visto ótimos filmes britânicos. Quando vou a uma locadora, utilizo alguns critérios de escolha quando não sei ao certo o que pegar, como premiados, europeus e cult. Mas, o critério de incluir filme britânico numa alta categoria tem dado muito certo. Mesmo sendo uma produção recente, de 2008, nunca tinha ouvido falar no filme A Vida num só dia. Utilizando-me dos requisitos acima expostos, arrisquei. E valeu a pena! Sobretudo numa sexta-feira chuvosa, regada a um bom vinho com meu maridão ao lado. (As feministas me desculpem, mas ter marido é legal!)

A Vida num só dia é uma bela história dentro de uma charmosa produção. E, antes de tudo, despretensiosa! Talvez esse seja o maior atributo do filme, que começa com uma elegante trilha sonora. A primeira cena, bem peculiar, mostra a Miss Pettigrew (o nome dela é o título original do filme), uma governanta sendo despedida pela enésima vez depois de 20 anos trabalhando para a mesma família.

Estamos falando de uma Londres efervescente culturalmente na década de 40. Após roubar uma indicação de sua agência de emprego, Miss Pettigrew assina para trabalhar com a Srta. Lafosse, jovem oportunista que se relaciona com três homens, sendo dois por interesse e um por amor. E o dia em que passam juntas vai transformar as suas vidas para sempre.

A bela fotografia de John DeBorman, ao som de ótimas canções da época, nos leva a uma Londres nostálgica e, talvez por isso, ainda mais charmosa. O figurino é demais. E logo eu que adoro um look retrô! A alegria do filme é contagiante justamente por sua energia, música e ótima condução. Sim, é comédia. Sim, é romance. E sim, o final é clichê. E talvez por isso seja um ótimo programa para casais. Não, não apenas para casais, not at all! Reformulando. Talvez por isso seja um ótimo programa para os que querem celebrar a vida, apreciando o que ela tem de melhor a nos oferecer!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Chutando tampinhas...


Foi meu primo Lito Cavalcanti quem me deu o primeiro livro de João Antônio assim que eu cheguei de mala e cuia em São Paulo, em meados de 90. Nunca tinha ouvido falar nesse escritor ate então. Fui logo atraída pelo sugestivo título, Dedo-duro, e sugada pela narrativa do escritor. Fiquei apaixonada e me perguntando como eu não conhecia João Antônio de outrora. Para piorar, ainda não existia o google, parceiro de todas as horas, e os sites de busca eram bem fracos.

Fui correndo à Livraria Cultura do Conjunto Nacional e pasmem! Nada. Nenhum livro dele nas prateleiras da livraria mais cool de São Paulo na época. Como pode? Começou minha busca quase desesperada (logo transformada numa obsessão) por um exemplar de João Antônio nas livrarias. Rien! Restavam-me os sebos. Aliás, diga-se de passagem, adoro a cultura de sebo, essa circulação de livros, de histórias e de saberes.

Ali começava minha peregrinação pelos maravilhosos sebos de São Paulo e, após muita procura, encontrei um exemplar bem velhinho de Malagueta, Perus e Bacanaço. Pronto. Fui definitivamente flechada pela escrita de João Antonio. Uma paixão logo transformada em indignação. Como é possível? Não há livros dele, quase ninguém o conhece.

Estava completamente órfã, sem ter com quem dividir as peripécias do chutador de tampinhas, até que um belo domingo fui surpreendida com a ótima coluna Macho, através da qual Xico Sá declarava seu amor incondicional ao porta-voz dos bêbados, das prostitutas, dos sinuqueiros e afins. Acho que a falta de interesse das grandes editoras por João Antônio se dava pelo fato do cronista contrariar a lógica dominante.

Na década de 60, após ganhar dois prêmios “jabutis” e trabalhar em importantes jornais e revistas, João Antônio largou o seu emprego, destruiu seus cartões de crédito, vendeu seu carro e se separou da mulher. Enfim, adotou um estilo de vida próximo da marginalidade vivida por seus personagens para se dedicar inteiramente à literatura.

Os críticos viam-no como uma espécie de Lima Barreto do fim do século XX. Era  preciso mergulhar na genialidade, fraqueza, cultura, solidão, ressentimento, contradição, mulatice e vaidade que ambos comungavam. Finalmente foi lhe dado o devido lugar à literatura. A edição de luxo da Cosac Naify com vários livros de João Antônio é uma obra-prima para ler e guardar na estante em lugar privilegiado.

João Antônio é um escritor da marginalidade, o nosso Bukowski, o intérprete do submundo que se manteve fiel ao seu estilo literário até o fim. Seu corpo estirado na cama em seu muquifo alugado em Copacabana só foi descoberto 15 dias após sua morte, em 1996.  Em vida, encarava a solidão com escárnio, adjetivando-a de nojenta mais para aliviar a si mesmo do que por reclamação. Grande, João Antônio!

Querem ser fisgados de cara por ele?  Comecem com Perus, malagueta e bacanaço.

sábado, 10 de setembro de 2011

Mais do que um mimo…


É muito bacana essa concepção da Mimo, a Mostra Internacional de Música em Olinda.  Além dos shows mais modernos ao ar livre (como o Gotan Project), assistir a concertos dentro de belas igrejas é uma das sensações das mais agradáveis e emocionantes. A execução de músicas clássicas nos envolve numa atmosfera ritualística que nos aproxima do sagrado. É de um simbolismo gigantesco. O critério de seleção das atrações impressiona pela qualidade.

Não é novidade que esse duo de música clássica e igreja é uma fórmula muito usada na Europa. Mas, as apresentações e concertos em igrejas por aqui só começaram após o aparecimento da Mimo. A gente agradece!

Pezão resumiu num post o sentido deste evento quando atribuiu (e agradeceu) à produção o fato de ter conhecido a Capela Dourada só agora, apesar de ser daqui e dos seus 40 e alguns anos. Foi uma unanimidade a apresentação do minimalista Philip Glass na Igreja da Sé. A lotação nos locais só revela o óbvio: como nós pernambucanos somos carentes de programações culturais bacanas. Quando acontece um evento como este é sucesso na certa! E consolidado!

Outra coisa muito legal desta edição foi a Mostra ter cruzado a fronteira de Olinda e invadido a cidade do Recife (E João Pessoa também). Fui ao concerto da Orquestra de Câmara de Toulouse na Igreja do Carmo. Que cena mais bonita a igreja tomada por gente de todas as classes sociais, todos reunidos ali com um único propósito: apreciar o belo! Músicos de excelência (esta característica Mauro sabe reconhecer melhor do que eu por ser músico nas horas vagas) executando lindas peças!

Sem dúvida, a Mimo é muito mais do que um mimo para nós pernambucanos. É uma dádiva!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Até as princesas soltam pum…



Eu sempre me incomodei com as histórias de princesas, sempre belas, magras e loiras. Alguém já viu uma princesa negra ou gorda? E baixinha? Se alguém souber, por favor, me avise porque eu nunca vi. A gente cresce tendo em mente esses padrões de beleza para sonhar e se projetar. Imagine quando a criança é gordinha, dentuça e/ou usa óculos? Ou quando o cabelo é pixaim?  A bailarina de Chico também não tem lombriga, nem frieira, nem piolho, nem ameba e nem pereba.

Sem dúvida, a busca de um ideal que não existe começa logo na infância. Haja frustração por não corresponder aos modelos de formosura dos contos de fadas e das bailarinas. E, na vida adulta recorremos à terapia (seja ela no divã ou na mesa de um bar) para aprendermos a lidar com as nossas “imperfeições”. Isso é desumano!

Por ter sentido na pele o que significa não ser a mais alta, nem a mais loira da classe (para ficar só aqui), sempre procurei desviar a atenção da minha filha Júlia, de quase seis anos, desses valores bestas. Desde bem pequena, ela ganha bonecas do tipo sarará e gorducha. Uma das preferidas é Uva com todas as características acima.

No ano passado, vi um livro que me chamou muito a atenção, na Livraria da Vila, em São Paulo. O título já aguçou a minha curiosidade e, após folheá-lo, não pensei duas vezes. Até as princesas soltam pum conta a história de Laura, uma garota muito curiosa. Uma das questões que mais a intriga (e a seus colegas de escola também) é saber se as princesas soltam ou não pum.

Ela recorre ao pai para esclarecer a dúvida tão perturbadora, que, por sua vez, apela para o antigo "livro secreto das princesas" e, com ele, a confirmação "sim, Cinderela, Branca de Neve e até a Pequena Sereia sempre soltaram pum!". Mas, isso não é tudo, sabe por que o caixão de acrílico de Branca de Neve não podia ficar aberto? E por que o príncipe se apaixonou por ela? E como a Cinderela soltou seu primeiro pum? Bem, descubram o segredo!