quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pra começar, Márai, o divisor de águas!


Meu primeiro encontro com Márai foi em As brasas há uns quatro anos. Fui apresentada por meu querido amigo Lula Arraes, médico, escritor e um grande conhecedor de literatura. Esse livro mudou a minha vida, foi um divisor de águas de tão impactante. Por dois anos, Márai passou a habitar a minha cabeceira, mas nenhum livro dele se compara às Brasas. Digo isso após ter lido uns 5 a 6 livros desse húngaro que se matou com um tiro na cabeça exilado nos Estados Unidos. Nem mesmo o badalado De verdade.

A história se passa durante o Império Austro-Húngaro, no início do século XX, e o protagonista é Henrik, um velho general que dedica boa parte da sua vida a um acerto de contas com um antigo amigo, Konrad. A forma como Sandor Márai constrói o personagem, os cenários e os ambientes daquele período faz com que a gente vivencie completamente todo o sentimento do general. O desenrolar desse ajuste de contas é um dos textos mais belos e densos que já li. O general (ou talvez Sandor Márai, o livro parece meio autobiográfico) discorre sobre o entendimento dele acerca da amizade. Quanto mais Henrik tenta explicar esse sentimento, menos entendemos o significado das coisas. É de tirar o ar!

Márai tem um texto elegante, sem excessos, nem pedantismo. De uma fluidez incrível. O autor discorre sobre amizade, amor e honra, sentimentos que não se deixam aprisionar pelo tempo. E só pra dar um gostinho, lá vai um trecho do livro: "A morte tem uma força de imaginação semelhante à da vida... Os homens contribuem para o próprio destino, determinam certos fatos que vão acontecer com eles. Chamam o destino, apertam-no contra si e não se separam mais dele. Agem desse modo mesmo sabendo desde o início que esses atos terão resultados nefastos. O homem e seu destino se realizam reciprocamente, moldando-se um no outro. Não é verdade que o destino se introduz às escondidas em nossa vida: entra pela porta que nós mesmos escancaramos, pondo-nos de lado para convidá-lo a entrar”.

À demain!


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