segunda-feira, 5 de março de 2012

A saga de uma família, o sanatório e as cabeças trocadas!



Sumi, eu sei que sumi, mas o motivo foi nobre. Primeiro, o feriado de carnaval. Em seguida, a qualificação do meu projeto de mestrado. Mas com diria o Rei, eu voltei porque aqui, aqui é meu lugar! Tava pensando com meus botões se alguém me perguntasse qual o melhor escritor de todos os tempos, certamente eu não saberia responder apenas um. Mas hoje eu elegi um alemão que amo de paixão. Um mestre da narrativa. Um primor de escritor! E é a ele, Thomas Mann, a quem dedico este post. 

História de família é um assunto recorrente entre os mestres de literatura. Mas, a saga da família em Os Buddenbrooks, publicado no início do século XX, é um exemplo de superação. Thomas Buddenbrook é o centro do romance. Apesar de parecer clichê falar sobre a decadência de uma família da aristocracia, Thomas Mann consegue sair do lugar comum. Logo de saída, somos envolvidos no destino de uma firma burguesa da Alemanha oitocentista e num personagem careta, quadrado, sem graça, fortemente ligado aos valores mais reacionários e conservadores possíveis de imaginar. 

No romance, Mann é magistral quando usa como pano de fundo da narrativa a filosofia pessimista de Schopenhauer. Ele ainda cria no romance uma atmosfera budista de que tudo é ilusório, mesmo o que parece mais sólido. Nada pode permanecer o mesmo sob pena de estagnar e morrer de uma forma pior que a morte. Impressiona a atualidade do texto, sobretudo quando Thomas (o personagem) sofre de um dos maiores males da nossa sociedade que é o estresse, aquele eterno cansaço, de que a energia vital está prestes a falhar. Simplesmente fantástico! É incrível como a estética da escrita é algo atemporal! E o melhor é que a grandiosidade de Thomas Mann não parou nessa obra. Aliás, não é por acaso que o escritor figura entre os maiores de todos os tempos.

A Montanha Mágica (talvez o mais famoso, que lhe rendeu o Prêmio Nobel) é igualmente repleto de adjetivos e superlativos. O livro parece cansativo, pois aparentemente não tem enredo. Mas não é! Eu quase que desisto, mas insisti e e não me arrependo. Resistir é a palavra de ordem aqui! Após os primeiros capítulos, a trama vai tomando um rumo de tirar o fôlego. Tudo começa no sanatório, que se torna uma espécie de microcosmo europeu. Os numerosos personagens do livro são representações de tendências e pensamentos que predominavam na Europa, momentos antes da Primeira Grande Guerra, conhecido como o período dos anos loucos. A instabilidade naquele continente era refletido justamente num sanatório. 

Em Cabeças Trocadas, Thomas Mann utiliza a Índia como cenário de uma fábula sobre a identidade, a partir de um triângulo amoroso. Dois jovens amigos com características completamente opostas.  Shridaman é o brâmane espiritualizado e pouco atlético; Nanda é o belo trabalhador braçal. Shridaman apaixona-se por Sita (a deusa indiana), mas quem faz a corte por ele é Nanda. Ora, como Sita não conhece o futuro marido, a imagem que ela tem como referência é a de Nanda. Consumado o casamento, apesar do carinho e respeito que tem por Shridaman, é Nanda quem ela deseja, com quem sonha e fantasia. Numa resenha sobre este livro, o grande Octavio Paz disse: “O que impede o trio de encontrar uma solução é a insatisfação com o Mesmo e a eterna atração pelo Outro”.

Sobre a identidade, Thomas Mann escreve: “…além da verdade e do conhecimento racionais, existe a intuição do coração humano, que sabe ler a escrita dos fenômenos não apenas no seu sentido primário e simplista, mas também no sentido secundário e mais elevado, deles se servindo para atingira contemplação do puro e espiritual.. É dado e concedido aos homens se servirem da realidade para vislumbrar a verdade. A linguagem forjou a palavra poesia para nomear essa dádiva”. Cabeças Trocadas é imperdível e bem fininho! Talvez um bom começo para quem nunca adentrou no universo de Mann! 



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