terça-feira, 20 de março de 2012

É de tirar o fôlego De verdade!


Um das minhas primeiras postagens nesta modesta estante foi sobre o livro As brasas, de Sándor Márai. Após ter sido apresentada pelo meu amigo Lula Arraes, nunca mais deixei de lê-lo. E de admirá-lo! As mazelas e virtudes da alma humana são assuntos recorrentes em seus livros. Ele viveu intensamente a Primeira Grande Guerra, circunstância que se faz presente no contexto de muitos dos seus romances. Foi censurado pelos comunistas, exilou-se nos Estados Unidos, onde se suicidou no ano da queda do Muro de Berlim, em 1989.

Considerado como sua grande obra (embora eu ainda prefira As brasas), o romance De verdade foi escrito ao longo de 40 anos. Com uma linguagem elegante e despretensiosa, Márai nos mostra os conflitos do amor e do casamento por meio dos bastidores da burguesia decadente na Europa Central entre as duas grandes guerras. O romance demarca a fronteira intransponível que separa as classes sociais, reabrindo as cicatrizes de uma capital agonizante cercada pelas tropas comunistas.

O realismo e a simplicidade sempre presentes nas narrativas de Márai são características que me atraem muito. Ele se atenta ao que é fundamental. Ou seja, ao sentimento (e sofrimento) humano. O resto é adereço, complemento. A dor irreparável, os rancores petrificados, os mistérios do amor e suas frustrações são questões tratadas com profundidade. Tenho pra mim que a frustração a qual ele se refere é a da idealização. O ideal existe apenas na mente de quem idealiza.

A narrativa em De verdade é sincera, clara e transmite as dores do narrador (ou dos narradores, já que eles são quatro). Pairam ainda nessa atmosfera criada por Sándor Márai uma sexualidade reprimida, um traço conservador, com pequenas (quase imperceptíveis) alusões de cunho homossexual. Daí a origem das minhas impressões a respeito de sua sexualidade que aparece (pelo menos para mim) de forma meio autobiográfica em seus livros.

“(...) Existem apenas pessoas, e em todas há um grão de verdadeira, e nenhuma delas tem o que do outro nós esperamos e desejamos”.

Recomendo!

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