quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Morte de Ivan Ilitch: em busca de um sentido para a vida!



Nunca um livro me tocou tanto quanto esta pequena novela de Leon Tolstoi, com pouco mais de 80 páginas. A Morte de Ivan Ilitch foi escrita no final do século XIX, mas é uma obra-prima extremamente contemporânea.  Com uma aguçada densidade, a novela retrata o tema da morte e o sentido da vida, personalizada em Ivan Ilitch, um juiz russo que, diante de uma doença terminal no leito da morte, faz uma profunda reflexão sobre toda a sua vida, revelando-se a si próprio.

O autor subverte a ordem das coisas no título que logo diz a que veio e, em seguida, na narrativa magistral, cuja história começa no velório. O livro é perturbador! Ilitch teme a morte mais do que tudo ao perceber que sua vida poderia ter sido mais proveitosa, honesta e menos fútil. Quanto mais insuportáveis se tornam as suas dores, mais a realidade lhe é exposta de forma crua e nua. E assim, ele percebe o vazio construído ao longo da sua vida.

Família, emprego, amizades. Tudo isso nada mais é do que uma mera ilusão. O ato de morrer carece de algum significado. Para o respeitado juiz, resta apenas o niilismo,  o nada, o vazio existencial. Conforme a leitura se aprofunda, encaramos na morte do personagem o reflexo da nossa própria existência que se esvai gradativamente. Sem dúvida, o livro deveria ser uma leitura obrigatória nos dias de hoje tendo em vista a enorme inversão (quando não ausência) de valores e a “esquizofrenia” da nossa sociedade moderna.  

A Morte de Ivan Ilitch é uma autobiografia de Leon Tolstoi, famoso por levar uma vida desregrada com jogos, bebidas, prostitutas. Desregramento apenas contido pela sua busca espiritual, porém uma fé constantemente abalada por crises existenciais ao longo de sua vida. O próprio Tolstoi dizia: “não passei um dia em minha vida sem pensar na morte”.

Estamos falando de uma obra universal, pois suas inquietações e angústias pertencem à vida de qualquer um de nós, independentemente da época. Por isso ela chega a ser obrigatória (a meu ver) por nos ajudar a refletir sobre a frágil condição humana diante da nossa finitude.

Nas suas breves páginas, Tolstoi brinda o leitor com o relato de um acerto de contas, revelando a futilidade do modelo de vida burguês. As preocupações corriqueiras, os afazeres mundanos impediram-no de pensar nela. Será preso ao leito, frente à morte certa, que a vida de Ivan Ilitch se revelará mais livre, mais autêntica e vigorosa.  

Absorto num sofrimento desesperado, Ivan Ilitch se dá conta da insignificância de sua vida, da fragilidade de suas conquistas. Apesar de suas dores físicas serem terríveis, o que mais lhe doía era a sua consciência moral. Diante da finitude, a ânsia de encontrar propósito para sua breve (e vulgar) existência era imperativa!  “Vulnerável, clamava por carinho, piedade e, em silêncio, nutria um desejo inconfessável para um homem de respeito: queria ser cuidado como se fosse uma criança”.

Buscar e encontrar o significado da vida é algo particular. O juiz Ivan Ilitch foi um homem que não atentou para a liberdade de poder escolher seu destino.  Mas, no momento em que ele adota uma atitude em relação ao sofrimento, algo fenomenal o liberta. Ah, a morte: “Que alegria!” Ivan Ilitch recebe-a de braços abertos!


(* A primeira vez que li foi por recomendação de Mauro logo quando fui ensinar no Laboratório de Comunicação da FPS há alguns anos. A segunda foi após ter encontrado um sentido para a minha vida)




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