Saudades daqui. A correria
do cotidiano tem me mantido mais distante do que eu gostaria deste espaço que
eu zelo tanto, sobretudo num semestre carregado de estatísticas, literalmente.
Abre parênteses. A disciplina obrigatória de métodos quantitativos é o terror
dos pós-graduandos de sociologia da Federal. Mas, a gente sobrevive e, pasmem, aprende!
Depois de um semestre sofrido, eis que exponho aqui algumas inquietações acadêmicas que têm tudo a ver com o tema.
A tal da emoção! Do nosso esforço de dar sentido
ao mundo.
O
sofrimento humano faz parte da vida. Na filosofia oriental, o sofrimento faz parte
da dimensão humana. A tradição judaico-cristã, ilustrada na histórica bíblica
de Jó, sublinha a dor presente na vida tentando entender suas causas. O
exame da história humana, sobretudo na versão que nos oferece a literatura
grega, faz surgir ao mundo homens marcados pelos desígnios cósmicos. Ulisses,
Prometeu, Édipo e Antígona são alguns dos personagens cujas tragédias pessoais
moveram suas vidas.
Com Zaratustra, Nietzsche retomou o mito
para propor a capacidade do ser humano para superar suas adversidades e se
“mover” em direção a um mundo que faça sentido. Olha o que ele dizia: “Zaratustra
foi o primeiro a ver na luta entre o bem e o mal a roda motriz na engrenagem
das coisas - a transposição da moral para o plano metafísico, como força,
causa, fim em si, é obra sua”.
Na
contemporaneidade, analisar o sofrimento causador das depressões como uma das
expressões do sintoma social significa supor que os depressivos constituam, em
seu silêncio e recolhimento, um grupo ruidoso e incômodo. Para a psicanalista Maria Rita Kehl,
a depressão é a expressão máxima do mal-estar que ameaça a “euforia
prêt-à-porter, da saúde, do exibicionismo e, do consumo generalizado”.
Do
ponto de vista da experiência subjetiva, a singularidade do sofrimento o torna
um campo privilegiado para se pensar a relação entre indivíduo e sociedade, superando
hábitos instaurados por uma forte cultura de desprezo à emoção. Num contexto de crescente tecnologização do cuidado, precisa-se resgatar as várias dimensões do sofrimento humano.
Na contemporaneidade, o tempo é outro. Está
cada vez mais curto e acelerado. Não há mais espaço para o sofrimento. Nem
necessidade. Pra que sofrer se hoje temos a nossa disposição as pílulas da
felicidade e do prazer? Não temos mais os mitos de outrora, que atribuíam à dor
um sentido e ao sofrimento uma razão de ser, como o fez Zaratustra. Numa
sociedade secularizada, em que o sofrer não tem sentido, somos incapazes de
perceber o sentido do sofrimento - nem a dor do Outro - como força impulsora do
desenvolvimento humano. É preciso resgatar a experiência do sofrimento,
revelando a singularidade do sujeito que sofre, para dar um sentido a nossa
existência, e desvendar a universalidade da condição humana.