Cansados de prévias carnavalescas (sobretudo aquelas que constumávamos frequentar e que ficaram chatas, lotadas e descaracterizadas), resolvemos ficar em casa no fim de semana. Providenciamos vinhos e afins e pedi a Mauro para pegar um filme leve e bom na locadora. Eis que ele me vem com Biutiful, do excelente diretor Alejandro Inárritu. O péssimo sinal do celular impediu que ele me escutasse falar “só não pega Biutiful”! Que ironia! Foi justamente o que ele havia locado. Pois bem, havia chegado a hora de encarar! De leve, só o nome porque o filme é um pancadão. Daqueles dramalhões típicos de novela mexicana, mas com um diferencial.
Trata-se de um ótimo filme, com uma autuação impecável de Javier Bardem, que lhe rendeu o prêmio de melhor ator em Cannes, em 2011. Denso do começo ao fim. E não é difícil de entender o porquê do prêmio. Poucos conseguem dar a força dramática que Bardem imprime. É um personagem intenso difícil de imaginar na pele de outro ator. Ele é doce, firme quando necessário e também ameaçador. Mas, antes de tudo, é um homem atormentado.
Biutiful narra a história de Uxbal. Pai dedicado que conversa com os espíritos. Um homem desamparado que foi atirado à deriva da vida e está sempre tentando encontrar um sentido para a sua vida. À beira da morte, Uxbal sobrevive no coração do perigoso submundo de uma Barcelona invisível. Se em algumas poucas e rápidas tomadas não víssemos a capela da Sagrada Família, de Gaudí, bem ao longe e escurecida pelo céu nublado e pelo filtro da câmera, nem daria para perceber que é Barcelona.
Os seus sacrifícios pelos seus dois filhos não conhecem nenhum limite. Sentindo que a velha da foice o ronda, ele tenta encontrar a paz, proteger seus filhos, salvar-se a si próprio. Mas, as coisas não saem como o esperado. A história de Uxbal é simples e complexa. A vida não lhe foi muito generosa, não lhe sobrou espaço para boas ações.
É uma película verdadeira, essencialmente dura e crua, assim como a vida. Depois de Biutiful, Barcelona nunca mais será a mesma. É um filme que, quando acaba, deixa-lhe sem ar. E não termina na hora que acaba. Vai encarar?
* O mexicano Inárritu dirigiu os ótimos Amores Brutos, 21 Gramas e Babel. Talvez Biutiful não figure entre os melhores, mas sem dúvida, é um filme que merece ser visto, sobretudo pelo personagem de Javier Bardem.