Tudo bem, isso não é novidade, mas não custa nada lembrar algumas das atribuições que nos fazem uma pessoa melhor. Praticar a escuta se tornou para mim um mantra nos últimos anos. Entende-se aqui por: abrir o coração, livrar-se de preconceitos, não impor conhecimentos, aceitar a diversidade, evitar julgamentos em função de impressões, não ignorar o outro e, sobretudo, respeitar as verdades de cada um. Mesmo que isso gere uma discussão daquelas! Nada que uma cerveja não dissolva qualquer mal-estar.
Sempre quando passava sobre o viaduto Joana Bezerra me perguntava como era a vida na comunidade mais estigmatizada do Recife. Não é possível que só haja marginal ali! Recentemente, tive a grata surpresa (ou melhor, privilégio) de ver, em primeira mão, o livro Senhoras do Coque, produzido pela Rede Coque Vive, da qual faz parte uma querida colega de mestrado, Rafa, que me acompanha desde quando éramos apenas alunas especiais em busca de uma vaga no concorrido mestrado de Sociologia.
O livro traduz exatamente o meu entendimento sobre o que é uma escuta aberta. Nele, são contadas de forma bastante singela – como a vida dessas criaturas - as histórias de Dona Paulina, Dona Zezé, Dona Valda, Dona Luiza e Dona Geralda. São relatos de amizade, de valores, de alegria, de sofrimento e de fé. Sem dúvida, há vida em abundância dentro do Coque, e não meras estatísticas. Aquela comunidade pulsa e nós a maltratamos demais.
A narrativa do livro é bastante comovente. Comove pela simplicidade do texto e pelo respeito em preservar a fala do entrevistado, deixando-o extremamente original. Nele, adentramos na vida como ela é daquelas pessoas que sofrem, amam, perdem – no sentido mais cruel do termo -, choram e se divertem com as coisas mais simples do mundo! Pessoas como nós, pessoas desprezadas por nós! Em Senhoras do Coque, tudo é simples, tudo é singelo, tudo é humano, demasiado humano (Niezstche).
Parabéns aos que fazem parte deste lindo projeto. Parabéns a Rede Coque Vive, parabéns a Chico Ludemir, a Maria Liberal, a Rafaela Vasconcellos e a Sandokan Xavier.Aqui vai também o meu parabéns especial ao Frei Aloísio Fragoso que, apesar de não estar diretamente no livro, levou-me através de duas missas a conhecer mais de perto e ajudar a comunidade do Coque.
Uma salva de palmas para as Senhoras do Coque! E todos os que fazem parte dela, sem dúvida, um dia agradecerão pela dignidade que essa moçada da Rede Coque Vive está devolvendo para a Comunidade, com C maiúsculo mesmo!